terça-feira, 12 de março de 2019

CARLA BERNARDINO: VOZ DIVINA DO "BEL CANTO".


Carla Bernardino é soprano, mas pelo caminho licenciou-se em Direito, na Universidade de Coimbra. A música segredou-lhe inconfidências poéticas. Ficou cativa do canto lírico. Terminou o 8º grau de Conservatório, depois a Pós-graduação em Ópera na Escola de Música de Artes e Espetáculos do Porto (ESMAE). Os acordes afinaram-lhe a vida e descobriu o universo da Ópera: interpretou os principais papéis na Ópera Les Enfant et les Sortileges, em Les Dialogues des Carmelites, em Flauta Mágica e Fairy Queen de H. Purcell. A música é, também, a metáfora dos encontros. Com os maestros António Vitorino D´Almeida e Rui Pinheiro ousou novas experiencias musicais. Participou no “Meeting Place Music, Theatre and Landscape” na Suécia; em Cabo Verde, aquando do aniversário, da Fundação da Orquestra Nacional Cabo-verdiana; e na “Ópera 3 Mil Rios” na cidade de Bogotá, na Colômbia. Atualmente é professora de Técnica Vocal.

1.Onde começa sua genealogia?
Tenho raízes que me ligam a África, nomeadamente Cabo Verde, o país onde meu pai nasceu. Com 18 anos abandonou a sua terra e veio para Portugal. Sou fruto de uma bela história de amor entre uma Portuguesa e um Caboverdiano, relação bastante ousada à época.

2 . Quais as músicas que compõem a banda sonora da sua vida? E os livros?
É difícil enumerar as músicas que me marcaram e ainda marcam, há uma enorme quantidade de temas que adoro ouvir pertencentes a estilos e épocas completamente díspares. Do Clássico ao Romântico, do Rock ao Jazz, mas também Músicas do Mundo que nos dão a conhecer a sua cultura através da música. Sou uma enorme apreciadora da música latino-americana, adoro ouvir Chavela Vargas, Tom Jobim, Omara Portuondo, Astor Piazolla. Depois o Jazz também tem um cantinho especial que me delicía, Nat King Cole, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong... e a incomparável Nina Simone. Nos livros tal como na música é difícil eleger aqueles que nos marcaram mas destaco “Quando Nietzsche chorou” de Irvin Yalom.

3.Como surgiu o Prestige, uma formação clássica de três artistas eruditos?
Decorria o ano de 2004/2005, frequentava eu o Curso de Canto no Conservatório de Música de Coimbra, quando fui convidada para cantar num evento. Motivada pelo convite juntei-me a mais dois colegas, também eles estudantes do Conservatório (pianista e violinista) e começámos a estudar e a preparar repertório para o evento. Daí para a frente nunca mais parámos. O Prestíge tomaram uma dimensão e uma credibilidade, na área da música clássica na região centro, incontornável. Abrilhantámos centenas de eventos e são muitas as autarquias e instituições privadas que nos acolhem.


4.Quando decidiu ser uma soprano?
Eu não decidi ser uma soprano, digamos que, a certa altura era uma evidência incontornável e não o fazer tornava-se extremamente penoso. Quando concluí o curso de Direito não coloquei sequer a hipótese de continuar. A música, o “bel canto” já tinham tomado conta da minha vida e do meu coração. Quando me apercebi já estava demasiado envolvida a fazer coisas, com projetos, ideais, aulas... eu não decidi, simplesmente aconteceu!... e quando parei para pensar sobre isso, o Canto já era a minha vida. O meu maior desafio, enquanto cantora lírica é conquistar um público cada vez mais vasto no “bel canto”, tradicionalmente elitista e confinado aos teatros de Ópera. Hoje sou convidada a actuar em espaços e salas onde este tipo de música não tinha lugar.

5.Como é o processo de preparação da voz, para representar os grandes papéis do repertório lírico?
Aprender Canto Lírico é um verdadeiro desafio. Temos de encarar esse processo com algum rigor e dedicação. A preparação e formação da voz não acontece de um momento para o outro e tem momentos verdadeiramente penosos. É necessário conhecermos o nosso instrumento (a voz), trabalhar diariamente e ser persistente e focado no objectivo principal. A preparação de uma personagem, no repertório Lírico, carece do conhecimento profundo da personalidade e do carácter da personagem para que, aquando da interpretação do tema, consigamos transmitir claramente a ideia sentimental e estado de alma. O ouvinte deve sentir-se transportado para aquele contexto e personagem. O cantor é também um actor.





Entrevista: António Vilhena e Angel Machado.

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