Joselia
Aguiar é jornalista, mestre e doutoranda em História (USP). Nasceu em Salvador
e está radicada em São Paulo. No jornal Folha de S. Paulo, trabalhou como
redatora, repórter, colunista de livros e correspondente em Londres. Editou
EntreLivros, revista mensal de livros, e foi curadora da Festa Literária
Internacional de Paraty – FLIP, em 2017 e 2018. É autora de Jorge Amado - uma
biografia (2018), que saiu pela editora Todavia.
Foi
recentemente convidada para assumir o cargo de Diretora da Biblioteca Mário de
Andrade da Prefeitura de São Paulo. É, ainda, Curadora de literatura do Centro
Cultural São Paulo. Entrevistamos
Joselia Aguiar, uma das mulheres mais influentes da cultura de São Paulo, e,
quiçá, do Brasil, que não hesita em afirmar que “o Ministério da Cultura foi um
dos comemorados ganhos do início da redemocratização” mas que “o atual governo
não valoriza as artes, a cultura, os direitos humanos, o meio ambiente.”
1 - O Brasil vive tempos difíceis, e há
um certo passado que parece ter pressa em ganhar posição. Apesar desta
percepção - de quem vive na Europa -, a Cultura continua a ser a resistência da
esperança?
Não
tenho dúvida disso, e creio que a trajetória de Jorge Amado nos pode
confirmar. Trata-se de um espaço de
abertura para o outro, suas belezas e
dores, um espaço de exercício do humanismo.
É uma coincidência que, após sete anos de trabalho nessa biografia, sua
publicação ocorra agora, quando mais se precisa resistir à barbárie.
2 – Tem o escritor Jorge Amado tatuado
na sua respiração. Encontra nalguma das suas obras semelhança com o momento que
se vive atualmente no Brasil?
Infelizmente, encontro sim. Em diversos momentos da história brasileira,
somos rondados pelo autoritarismo, e o racismo nunca deixou de ser um grande
problema a enfrentar. Talvez mais que antes estamos tentando avançar, e por
isso mesmo ocorrem esses movimentos reacionários. São uma reação aos avanços.
3 – Você conheceu Jorge Amado? Escrever
uma biografia é um exercício de exaustão, requer disciplina. Qual é a sensação,
após alguns anos de trabalho, e da materialização de um livro incontornável, já
aclamado pela crítica?
Muito obrigada pela apreciação! Sempre soube da imensa responsabilidade que
tinha. Foi cansativo, e apesar de ter se alongado muito, eu sabia que em algum
momento chegaria ao fim. As sensações são variadas, a mais significativa é quando
alguém que não conheço me procura para comentar o livro, dizer que aprendeu ou
se emocionou com esta ou aquela passagem.
Desejei aumentar o espaço dos debates
sobre literatura, e a ampliação de repertório e da pluralidade de autores e
autoras era parte disso, parte de conhecer vozes, geografias e culturas que nos
ajudariam a ter mais literatura. Creio que é um caminho irreversível, as
curadorias brasileiras, não só de literatura, mas de todas as artes têm
trilhado esse caminho.
5 – Está a fazer o doutoramento sobre os
diálogos literários e políticos do baiano Jorge Amado com outros escritores da
América hispânica, numa altura em que o Brasil não tem um Ministério da
Cultura. O que é que significa o Brasil não ter um Ministério da Cultura?
Recuamos muito, pois o Ministério da
Cultura foi um dos comemorados ganhos do início da redemocratização. O atual
governo não valoriza as artes, a cultura, os direitos humanos, o meio ambiente.
É hora de nós, cidadãos, nos unirmos apesar das diferenças ideológicas, porque
esse cenário que se apresenta não é de diferença entre conservadores ou
progressistas, é algo aterrador, reacionário, que nos põe em risco a todos.
JORGE AMADO, PARIS | 1948. |
Entrevista: António Vilhena e Angel Machado.
Sem dúvida que um exercício de inteligencia, como o é a proposta de uma entrevista com uma mulher desta qualidade cultural, só poderia resultar numa conversa inteligente. Fiquei com vontade de ter mais para ler e isso é muito bom. Parabéns Vilhena.
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