Hoje, no final de
uma sessão de autógrafos, um menino, de 8 ou 9 anos, abeirou-se de mim e
disparou:
- Eu quero ser
escritor e precisava de umas dicas.
Dito assim, sem preparação,
precisei de ganhar tempo, senti que o menino precisava de uma daquelas
respostas que justificassem ter substituído o recreio pelas minhas palavras. Há
uma grande diferença entre escrever livros e ser escritor. Para se ser autor
basta escrever livros, mas para se ser escritor é necessário ter pensamento,
ser um livre-pensador, exercer a sua função social, ser comprometido com a
estética ou com a semântica, deixar uma tatuagem nas vidas dos leitores. Ser
escritor é atravessar o seu tempo, interpelando e fazendo perguntas difíceis.
Escrever dá muito trabalho, é um exercício diário que exige muita disciplina e
determinação.
Mas o pequeno Ricardo
pediu-me apenas umas dicas. No momento de lhe responder lembrei-me de uma
afirmação de Gabriel Garcia Marques quando afirmava que “ser jornalista era uma
paixão insaciável”. Como dar umas dicas ao pequeno Ricardo?
- É preciso ler muito e ter um caderninho para
apontar as boas ideias e escrever histórias.
Lá foi abanando a
cabeça, mas lembrei-me que Gabo defendia que as melhores histórias são aquelas
que resgatamos à realidade.
O pequeno Ricardo
agradeceu-me com um olhar assertivo, enquanto o som da campainha anunciava o
fim do recreio. Depois saiu a correr, lembrando-me que os sonhos são vorazes,
mas a brincadeira não pode esperar.
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