sábado, 11 de novembro de 2017

A parolice Web Summit.


Somos, ainda, um país “pimba”, pacóvio e provinciano. Em muitas coisas não assumimos os preconceitos de calimero, mas há, infelizmente, situações onde esta paleta se torna ridícula. Recebemos com estrondo a Web Summit em Lisboa, não se falou de mais nada a não ser de robots que no futuro serão quase humanos – coisa impossível digo eu. Há quem veja nestas realizações todas as facilidades desde que isso traga divisas ao Tesouro. 

O país inteiro rendeu-se a todos os futurismos, deixou-se levar por histórias de jovens de sucesso que nasceram pobres e acordaram ricos, uma verdadeira panaceia dos tempos modernos a condizer com os sonhos do Tio Sam. Que fizessem a festa e a feira nada contra. Mas já me incomodo que tenha ido abrir garrafas de vinho e de cerveja no Panteão Nacional onde estão Almeida Garret, João de Deus, Manuel de Arriaga, Sidónio Pais, Guerra Junqueiro, Teófilo Braga, Óscar Carmona, Aquilino Ribeiro, Humberto Delgado, Amália Rodrigues, Sophia de Mello Breyner e Eusébio da Silva Pereira. 

Ser moderno não é isto. Fazer um jantar no meio dos túmulos deste ilustres portugueses é, também, uma boa imagem do que é este evento Web Summit. O efémero é urgente, mas nós temos pressa de respeitar a nossa memória, aqueles que fizeram muito por todos nós, que representam a nossa identidade. Foi uma parolice consentida por quem não devia ter autorizado. O dinheiro não pode comprar tudo, muito menos afrontar a nossa história e a nossa memória. Podiam ter feito o jantar na ponte 25 de Abril, ter fechado uma faixa de rodagem. Isso sim, teria sido uma boa oportunidade para se reencontrarem com a cidade e se despedirem com mergulhos no Tejo.

                                                                                                    António Vilhena

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