segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A melhor beleza.


O tempo guarda a paciência, escreve direito onde as linhas se curvam, sabe esperar pelos solstícios. Não se pode fazer sem ele, o que só com ele se faz. A pressa da vida nada tem a ver com a urgência dos dias; a sequência que mistura a luz e a sombra nem sempre são desejos da mesma montanha, o que parece universal é, às vezes, um breve crepitar de uma estrela perdida na linha do horizonte. É preciso acreditar na sua fosforescência, é nela que, provavelmente, se oculta a melhor beleza. A luz, que muitos desejam, é a alegoria de uma nova vida, de um renascimento. Ao darmos nomes ao que sentimos, a inquietação desassossega-nos, abrem-se as veias a um novo pulsar que clama do vulcão um rio de lava. Na corrente desse fogo arde o mistério da esperança, a flor de pétalas azuis como rosáceas góticas resgatadas ao imaginário dos deuses. O tempo escreve com paciência para que o Homem se reencontre na sua pressa de viver.



António Vilhena

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