O
tempo guarda a paciência, escreve direito onde as linhas se curvam, sabe
esperar pelos solstícios. Não se pode fazer sem ele, o que só com ele se faz. A
pressa da vida nada tem a ver com a urgência dos dias; a sequência que mistura
a luz e a sombra nem sempre são desejos da mesma montanha, o que parece
universal é, às vezes, um breve crepitar de uma estrela perdida na linha do
horizonte. É preciso acreditar na sua fosforescência, é nela que,
provavelmente, se oculta a melhor beleza. A luz, que muitos desejam, é a
alegoria de uma nova vida, de um renascimento. Ao darmos nomes ao que sentimos,
a inquietação desassossega-nos, abrem-se as veias a um novo pulsar que clama do
vulcão um rio de lava. Na corrente desse fogo arde o mistério da esperança, a
flor de pétalas azuis como rosáceas góticas resgatadas ao imaginário dos
deuses. O tempo escreve com paciência para que o Homem se reencontre na sua
pressa de viver.
António
Vilhena
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