De
outra margem chegou-me o último livro, Pessoa
Doutra Margem, do poeta santistas Flávio Viegas Amoreira (FVA), editado
pelo Imaginário Coletivo, que conheci na Casa das Rosas, em S. Paulo (2017). Com
os sentidos reféns da baía, o poeta deixa-se levar pela melancolia que veste o
mar imenso e que lhe lembra os “operários do Brooklyn”, quiçá, os que
construíram a ponte (1883). Há nesta sua obra poética um TU que dialoga com
Pessoa ou Álvaro de Campos através de um artifício literário onde a sombra do
poeta do Orfeu se perpetua no poeta santista, através do Velho Mundo que
representa a Cultura Clássica, o melhor da matriz greco-latina.
O cais, como
memória de outros mundos, espaço de encontro e de encontros, exílio de poetas
cativos na liberdade de olhar o horizonte, desassossego de desejos interditos,
é o “muro” que leva Álvaro de Campos a descobrir o abismo que o torna imenso.
Nessa contemplação, “O mar sem medidas //único a que me subjugo (pg.55), é ainda
a distância de Zénite a Nadir que toma a semântica da poesia num rio pequeno,
mas único a que o poeta se subjuga (pg.55). Quem ousar ler esta poética dos
anseios de Flávio Viegas Amoreira descobre um Algarve que desenhou as
coordenadas e as viagens com sangue mouro, os insolúveis corpos naufragados nos
versos de velas pandas.
O caos é um chamamento de erotismo “de novas aventuras
// em busca dum só amor // que satisfaça” (pg.58). A varanda sobre o mar
constrói-se na paciência dos dias, mas “A eternidade é aos domingos” (pg.50).
Um livro desassombrado onde o poeta deixa que lhe toquem “da forma que ainda
exista”(pg.31). Às vezes, o mundo mais íntimo é o que resiste nos corpos dos
outros, “no álcool da melancolia” (pg.58), em busca de “Um presente infinito!”
(pg.59). Pessoa Doutra Margem é um
livro sem margens.
António Vilhena
Bravo!
ResponderEliminarConheço a obra - um poema livro, raro hoje de encontrar escritores desta envergadura. Crítica de forte conhecimento. Pessoa os inspira a todos.
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