“Não
peças a quem pediu, nem sirvas a quem serviu”- diz o povo. Não há nada mais
miserável do que alguém ostentar as suas próprias misérias de carácter quando
exerce o “músculo”. Natália Correia gostava de virar o esqueleto dos que lhe
acenavam com perfumes baratos e má poesia, usava o chicote da indiferença e
subia ao escárnio para ver “os subalimentados do sonho”.
Todos
nós conhecemos histórias tristes, de gente triste que entristece, porque não
sabe, não pode e não tem competências para gerar consensos – é a amargura num
cálice de medo. Soube recentemente que um amigo foi impedido de ir às aulas de
doutoramento por quem manda, apesar de ser cumpridor, trabalhar, trabalhar,
trabalhar…. Ter-lhe-ão dito: “ou estuda ou trabalha”.
Não
quero trazer aqui o que diz o espírito da lei e a interpretação da mesma. O que
me interessa é exaltar esse amigo, homem de bons costumes, educado e de trato
irrepreensível, que ousa saber mais para devolver ao bem comum o conhecimento.
Este caso lembra-me o Princípio de Peter (supercompetente, competente,
incompetente). O meu amigo costuma dizer, com algum humor, que ainda há-de ver
um sapo cantar, tantas serão as pedras que “essa pessoa” ainda vai encontrar ao
longo da vida.
O
sacrifico por boas causas enobrece o Homem; a tolerância traz o conhecimento e
a pluralidade; a ignorância traz o medo e a violência. Os arriscados e
disfóricos investimentos nas relações humanas tem normalmente juros muito
elevados: acabam a falar sozinhos e despendem-se com uma chuva de ódios. Nada é
eterno e, pior do que isso, uma pessoa triste, assim, não pode ser outra coisa,
senão, um cálice de amargura.
António
Vilhena
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