sábado, 12 de janeiro de 2019

De que falamos quando falamos de cultura?




Raymont Carvet (1938-1988), escritor norte-americano, escreveu De Que Falamos Quando Falamos de Amor; foi um mestre do novo conto americano, que se inspirou em locais sofridos que destruíram sonhos.

Há coisas que estão a mudar: o governo anunciou um novo aeroporto e um grande incremento no Metro de Lisboa. Ficámos todos a saber que a capital do império continua a ser Lisboa. Nunca me oponho ao desenvolvimento, acho mesmo que os turistas têm que justificar a taxa que pagam.

Os ministros da cultura entram e saem entre as sombras, são uma reminiscência do Mito da Caverna. Arrisco-me a dizer que Portugal só teve dois Ministros da Cultura: Lucas Pires e Manuel Maria Carrilho.

O Ministério da Cultura exige tarimba humanista e conhecimento de hermenêutica, visão e sensibilidade.

De que falamos quando falamos de cultura em Portugal? Infelizmente, falamos de gente que vive assombrada com as estatísticas, com a mediatização das migalhas que atribui aos agentes culturais, de protagonistas provincianos que gostariam de pegar na mão dos programadores, de escolher os elencos e de encomendar a crítica. O pior de tudo não são os que têm temporariamente poder, mas o que imaginam que a Cultura é um álbum para guardar velhas fotografias.

Há aqui, também, imensos lugares sofridos que ganhariam a ironia e o trágico de Raymond Carvet.


António Vilhena

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