sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Mostrar os dentes.


A maioria das pessoas que publica fotografias nas redes sociais preocupa-se em mostrar que está feliz. Neste mundo onde o efémero parece imperar, o que domina é o que parece, não o que se é ou se sente, mas uma fictícia felicidade que serve para alimentar a rede de ilusões. As poses que transmitem uma ideia de felicidade, mesmo naquelas pessoas que estão muito infelizes, são as que se mostram, cresce uma ideia de bem-estar a qualquer preço, desde que isso sirva para engordar a nuvem de uma vida virtual. As pessoas mais felizes procuram salvaguardar a sua privacidade, escolhem os momentos de interesse pessoal ou social, porque aprenderam que o melhor das suas vidas é privilégio da discrição. A inveja e outras dores de cotovelo revelam inimigos sem escrúpulos, gente ferida na sua autoestima que encontra nos outros o alvo das suas frustrações.

A necessidade de parecer feliz deu lugar ao parecer, a uma mentira colectiva. Há uma presunção de bem-estar embriagante que mais parece um laboratório de sugestão, convidando os pacientes a representarem. Mostrar os dentes ajuda a conquistar “amigos”, a influenciar expectativas, a dissimular fragilidades. A tendência parece ser “pôr a máscara” e fechar a porta à autenticidade. Mas todos sabemos que nada pode esconder o que somos, o tempo encarrega-se de desconstruir a teia que traz os fantasmas e outros minotauros à inquietação da vida. Mais vale ser do que parecer, ao menos os dentes servem para comer.



António Vilhena 

1 comentário:

  1. O que domina é o grito. As pessoas gritam cada vez mais. O grito é a mais rica expressão do desespero.
    Alguns gritam para abafar o silencio, outros gritam em silêncio, para abafar o vazio.
    O grito às vezes escreve-se, quase sempre para que todos leiam e nos percebam pelo grito e nunca pelo nosso silêncio. Um abraço grande. (É tão bom ler-te e pensar no que escreves).

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