A maioria das pessoas
que publica fotografias nas redes sociais preocupa-se em mostrar que está
feliz. Neste mundo onde o efémero parece imperar, o que domina é o que parece,
não o que se é ou se sente, mas uma fictícia felicidade que serve para
alimentar a rede de ilusões. As poses que transmitem uma ideia de felicidade,
mesmo naquelas pessoas que estão muito infelizes, são as que se mostram, cresce
uma ideia de bem-estar a qualquer preço, desde que isso sirva para engordar a
nuvem de uma vida virtual. As pessoas mais felizes procuram salvaguardar a sua
privacidade, escolhem os momentos de interesse pessoal ou social, porque
aprenderam que o melhor das suas vidas é privilégio da discrição. A inveja e
outras dores de cotovelo revelam inimigos sem escrúpulos, gente ferida na sua
autoestima que encontra nos outros o alvo das suas frustrações.
A necessidade de
parecer feliz deu lugar ao parecer, a uma mentira colectiva. Há uma presunção
de bem-estar embriagante que mais parece um laboratório de sugestão, convidando
os pacientes a representarem. Mostrar os dentes ajuda a conquistar “amigos”, a
influenciar expectativas, a dissimular fragilidades. A tendência parece ser “pôr
a máscara” e fechar a porta à autenticidade. Mas todos sabemos que nada pode
esconder o que somos, o tempo encarrega-se de desconstruir a teia que traz os
fantasmas e outros minotauros à inquietação da vida. Mais vale ser do que
parecer, ao menos os dentes servem para comer.
António Vilhena
O que domina é o grito. As pessoas gritam cada vez mais. O grito é a mais rica expressão do desespero.
ResponderEliminarAlguns gritam para abafar o silencio, outros gritam em silêncio, para abafar o vazio.
O grito às vezes escreve-se, quase sempre para que todos leiam e nos percebam pelo grito e nunca pelo nosso silêncio. Um abraço grande. (É tão bom ler-te e pensar no que escreves).