terça-feira, 24 de outubro de 2017

Regressos


Todos aceitamos dançar com a ilusão, pelo menos uma vez na vida somos levados pela mão invisível e dolente que nos conta a narrativa do lobo bom. É tão fácil acreditarmos nas coisas boas, desde pequenos somos educados para a generosidade e o altruísmo. Por isso, as palavras doces como água em dias quentes, percorrem os lugares sem maldade que permanecem dentro de nós. Fechamos os olhos, como se a nossa mãe nos embalasse e entregamo-nos ao perfume da voz que seduz.
Mais tarde ou mais cedo, a madrugada anuncia, ao som do chocalhar dos rebanhos, o adormecer das estrelas cansadas, vindas do frio celeste, onde os poetas caçam as rimas. Quando os cães acompanham os lobos e os rios vencem o silêncio, regressam as aves onde a vida tem pressa. Cada regresso é uma Tróia incendiada, um lugar de mesura e de esperança.



António Vilhena

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