sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

ARNALDO DE MATOS MORREU SEM DISCÍPULOS.



Quando nasci para a política, no Alentejo profundo, já existiam siglas e partidos que enchiam todas as ruas da cidade de Beja. Misturavam-se as foices, martelos e estrelas. O vermelho era a cor dominante. Os maiores ativistas do liceu eram do MRPP, falavam bem, tinham ideias, mobilizavam, eram eloquentes e pareciam ter cultura política. Eram arrasadores, ninguém ousava fazer-lhes peito ideológico. Vestiam bem, era meninos com berço, as roupas era quase sempre de marca e alguns tinha popó. 

Defendiam a greve permanente às aulas contra o fascismo – diziam, embora já estivéssemos em 1975. O alvo era o fascismo e o social-fascismo, ou melhor o PCP. Aos poucos esses betinhos migraram para a direita, assumiram-se como defensores do PSD e do CDS, juntaram-se aos que defendiam os velhos privilégios através da terra, do grande latifúndio. Hoje morreu o seu líder, Arnaldo de Matos, o mais coerente de todos os que gritavam abaixo isto e aquilo, Deus e o Diabo. Paz a um homem que foi considerado o grande educador, embora sem discípulos.


António Vilhena

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