sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Coincidências da Justiça


Há momentos que se tornam inesquecíveis, pelo aparato, pelo escândalo e, principalmente, pela vergonha. A Justiça é o pilar fundamental das sociedades, mas todos queremos uma Justiça cega, imparcial e célere; todos desejamos que a Justiça não seja contaminada pelas induções da comunicação social ou de qualquer outro poder. Em democracia os poderes estão bem definidos: à política o que é da política e à justiça o que é da justiça. Mas, às vezes, fica a percepção que há uma agenda política oculta e alguns corredores onde a justiça e a política se eclipsam. 

O recente caso Centeno deixa-nos as maiores dúvidas e perplexidades. Quando se sabe dos escândalos da banca, de perdões de dívidas na ordem dos milhões, é estranho que o Ministério Público tenha ido na conversa do bandido, nas parangonas de pasquins que têm interesses claros e não se coíbem diariamente de o demonstrarem.

Sabe-se que este ministro é um factor de perturbação, mas por boas razões. Sabe-se que há quem deseje substituir-se à Casa da Democracia e ponha as garras justiceiras ao serviço da hipocrisia e da calúnia. O cinismo esconde-se atrás de muitos mantos, de muitas fardas, de muitos poderes, arrastando para a lama aqueles que pelo exemplo se vão das “leis da morte libertando”. As coincidências da Justiça são como os eclipses, estão estudados e adivinham-se.


António Vilhena