Há
momentos que se tornam inesquecíveis, pelo aparato, pelo escândalo e,
principalmente, pela vergonha. A Justiça é o pilar fundamental das sociedades,
mas todos queremos uma Justiça cega, imparcial e célere; todos desejamos que a
Justiça não seja contaminada pelas induções da comunicação social ou de
qualquer outro poder. Em democracia os poderes estão bem definidos: à política
o que é da política e à justiça o que é da justiça. Mas, às vezes, fica a
percepção que há uma agenda política oculta e alguns corredores onde a justiça
e a política se eclipsam.
O
recente caso Centeno deixa-nos as maiores dúvidas e perplexidades. Quando se
sabe dos escândalos da banca, de perdões de dívidas na ordem dos milhões, é
estranho que o Ministério Público tenha ido na conversa do bandido, nas
parangonas de pasquins que têm interesses claros e não se coíbem diariamente de
o demonstrarem.
Sabe-se
que este ministro é um factor de perturbação, mas por boas razões. Sabe-se que
há quem deseje substituir-se à Casa da Democracia e ponha as garras justiceiras
ao serviço da hipocrisia e da calúnia. O cinismo esconde-se atrás de muitos
mantos, de muitas fardas, de muitos poderes, arrastando para a lama aqueles que
pelo exemplo se vão das “leis da morte libertando”. As coincidências da Justiça
são como os eclipses, estão estudados e adivinham-se.
António Vilhena